terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Menina da chuva



Por um par de dias, uma vez por mês
É como eu me sinto:
Uma criança com os pés descalços, no meio da rua (qualquer)
mal iluminada, com os cabelos escorridos 
em água de chuva abundante que cai e cai e cai
Sozinha a sentir a torrente de uma mistura de lágrimas, suor e angústia
Que desce do extremo mais longe do chão do seu corpo
Até o chão embaixo dos seus pés
Mistura de líquidos incertos de sua origem
que vagueia por um caminho torto rua abaixo
E eu (ela, criança menina) na chuva torrencial, imóvel e quase esquelética.
Assim sou eu todo mês, por um par de dias
Dentro de mim (silêncio e opressão de chuva)
Fora de mim é trovão 
A criança menina dos cabelos escorridos
(cansada do ensopado da roupa e da sensação de torpor)
Grita em som agudo:
- Grita! Grita de novo!
E eu na demência de querer me resignar
- Abra as pernas! Grita!
Ela quer que eu triunfe uma vez na vida na esperança de sentir-se seca da água
inesgotável uma vez na vida.
Não sou surda, escuto a menina chorar
Me aqueço, tomo um analgésico e ignoro
É besteira!
E ela se cala por mais um ciclo de espera
Até o novo ciclo imenso de dor de existência.


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