Um dia eu morei numa Casa
Quente
Sempre
e muito aquecida
Sempre
e muito aquecida
Dentro dela eu ouvia
melhor
Enxergava feito
passarinho rasante
Tinha o sabor na ponta
da língua
E os cheiros condensados
A Casa era rodeada de
folhas frescas
Dia e noite
Clara
Clara
Ventre confortável
Indestrutível
Mágica
Mágica
Dois olhos a espiar e
a proteger
Mantinham a Casa segura
Fortaleza sem muralha
Ilha sem fronteira
Um dia eu me despedi
E tudo o que havia
dentro
Fugiu de lá para a memória
Como num volteio sem volta
Fugiu de lá para a memória
Como num volteio sem volta
A cor foi deixando
meus olhos
O perfume dos
cheiros
O gosto da
bochecha
Os barulhos calando
até o silêncio
Era minha
A Casa
A Casa
Ninho na sombra
Calor de asas
Quente
Mágica
Mágica
Hoje ruína.
***
***